segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Trabalhando com o medo de dançar em público!


Este é um assunto difícil! E achei legal escrever algo para quem tem dificuldades com este tema.


Temos 2 opções: deixar que nosso semblante reflita o que estamos sentido ou usar de nossos dotes performáticos e criar uma boa máscara para estampar na cara aquilo que bem quisermos e entendermos, e escondermos aquele medo básico de pisar no palco.

Seja qual for a sua escolha, lembre-se que a naturalidade é o ponto-chave de uma boa expressão. Ok, se naturalmente eu estou em pânico, pq não demonstrar isso em público? Pq lá no fundo há algo atrás desse medo todo, que é o prazer que a dança nos dá, e acredito eu que o público vai preferir ver isso do que seu olho arregalado, né, não?


Antes de qualquer coisa, reflita: o público não vai te morder. Às vezes ladra, é verdade, mas não morde. E se ele não for receptivo, paciência, honey! Lembre que você subiu no palco pra satisfazer, antes da vontade dele, a sua própria vontade de se expressar.

Cada dança tem sua forma particular de ser interpretada e não dá para generalizar. O flamenco pede uma expressão lamentosa em algumas peças. Ou sensual em outras. A dança cigana também... reflete alegria em alguns momentos, sensualidade em outros. A dança do ventre também. Há momentos para ser sexy, outros para ser a mocinha feliz, e outros para usar uma expressividade mais profunda, orientada pela música. No ballet? Também, oras! Se vc interpreta um ballet romântico, ou um cômico, ou um denso, vai ter que,  variar a expressão!


No caso das danças vintage... a cara pode ser a mesma sempre? Nãoooooooooooooooooo... o can can pede alegria, mas de uma maneira marota. Uma dança à la cabaret exige que vc exponha mais sua sensualidade. E nas swing dances? Alegria! Afinal de contas, vc está lá representando alguém que ia pra balada, cair na gandaia, se jogar na pista de dança. Não dá pra ficar com cara de tédio nesse momento, né?
Mas como eu consigo isso? Como traduzir cada dança de uma maneira diferente. Fácil: sintaaaaaaaa! Só isso. Sinta o clima e se libere. A música alegre te pede o que? E a densa? O caminho das pedras nem é tão pedregoso assim, afinal de contas, é só seguir o que a música te passa. Não, não imite sua professora, pq o sentimento dela é dela. O seu é seu. Descubra o seu e bote pra fora.
Tá, eu sei que não é tão fácil assim, a gente tem milhões de travas internas que nos impedem de simplesmente dar a cara a tapa. Mas é o que deveríamos fazer. Nos despir de medos e nos deixar levar pela música, pelo momento.
Pra quem ainda está na fase de achar isso tudo uma missão impossível, seguem algumas dicas:

1- Treine em casa, sozinha, na frente do espelho. Todas as caras e bocas possíveis e imagináveis. Coloque a música, dance sozinha, e deixe que sua expressão venha naturalmente. Sem medo do ridículo, afinal de contas, vc está ali, sozinha, com vc mesma, sem nenhum juiz pra te dizer o que é certo ou errado.

2 - Passe a treinar também nas aulas. Enquanto ensaia as coreografias. Não adianta ter uma técnica divina e perfeita, a coreografia na ponta da língua se vc não faz uso dos ensaios pra também explorar a sua expressão. Aproveite que é só ensaio e vá treinando diferentes maneiras de se expressar. Isso vai tornar sua dinâmica expressiva mais natural gradativamente e logo vc verá como, ao subir no palco, a coisa flui sem vc ao menos perceber.

3 - Não consegue se soltar realmente ainda? Então ao menos camufle a cara de pânico. Vc está segura de que sabe a coreografia? De que vai fazer bonito em cima do palco? Então pronto, meta um carão "eu sei que tô podendo" e vá à luta. Tem gente que não gosta de sorrir, eu sei. Mas não sorrir não significa manter no rosto uma cara de indiferença ou de medo. Dá pra ter atitude cênica sem mostrar os dentes. Vejam uma peça de dança contemporânea. Ninguém ali tá sorrindo e se desmanchando para o público, ao contrário, é uma dança que reflete uma neutralidade bege na expressão, muitas vezes. Mas nem sempre. Tem momentos em que você enxerga nitidamente o que a música transmitiu para o bailarino: a força, a suavidade, o deleite.

4 - Diga não à caricaturização. Exceto se for necessário. Oh, sim, numa dança que pede comicidade a gente exagera mesmo, faz parte do contexto. Mas se não é caso, não vista a máscara da canastrice e cole um sorriso colgate nos lábios só pra se dizer expressiva. Melhor cara de nada do que pânico? Ah, sim. E melhor cara de nada do que uma expressão forçada, um sorriso falso que não convence nem sua mãe. Não vale a pena.

5 - Não copie a expressão alheia. Não cola. Não combina com vc. Vc é vc e tem sua própria forma de demonstrar suas emoções. Se vc é mais contida e sua colega de classe é esfuziante, cada uma vai demonstrar as mesmas emoções de maneiras diferentes. E o público vai reconhecer que, mesmo não estando se rasgando toda em sorrisos, vc está demonstrando prazer em estar no palco. Da mesma maneira, tem gente que é naturalmente sensual, enquanto outras demonstram isso de uma forma mais sutil. É assim em tudo na vida, não pode nem deve ser diferente na dança. Galgue os seus próprios degraus, não tente escalar a escada do vizinho.

6 - Antes de entrar em cena, relaxe. Mesmo... faça caretas, solte o rosto, esqueça o stress do palco por alguns segundos e tente manter uma expressão neutra. Se vc já entra em cena pensando, ai, tô com medo, é óbvio que é isso que vai se retratar em seu rosto. Pise no palco com a mente livre de pré-definições. Vou dançar e ponto. Se eu sei o que vou dançar, é só chegar lá e fazer o que sei.


7 - Não dá mesmo? Não consegue fazer nada disso. Então estude um carão e o assuma. Uma máscara mesmo. Mas o estude até morrer pra que vc o incorpore de tal maneira que ele passe a ser parte de vc. Ele vai se tornar natural, acredite, assim como aquele passo mega difícil da coreografia, que vc penou horrores pra aprender, hoje vc já faz de olhos vendados. Ensaiar uma expressão não é a melhor maneira, mas pode ser uma tática para vencer essa trava de demonstrar emoções em cena. Mesmo que seja uma emoção teatralizada, já é alguma coisa. Mas lembre-se sempre: da mesma maneira que odiamos atores canastrões, também odiamos bailarinos canastrões. Bons atores são aqueles que conseguem forjar tão bem uma emoção que nos convencem de que ela é verdadeira. Dá pra encarar? Então, mão à obra no treino de sua máscara .


Namastê!

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